Por Marco Paulini
A fazer, transformar o contrário do que se prega, é muito fácil incentivar o hábito de leitura, principalmente dos livros de literatura clássica, entre os estudantes brasileiros. O complicado é alguns educadores entenderem que o cotidiano dos alunos tem passado por grandes e irreversíveis transformações. Todos aqueles métodos antigos, como o de cobrar a leitura de longos livros e cheios de poeira do dia para a noite como a única ferramenta de aquisição das manhas de escrita dos grandes escritores, já caíram por terra. Os motivos são claros e tenho certeza que você vai me entender.
Para começar, temos um grande ponto positivo: quem está sentado e assistindo aulas nas escolas, nada mais são, do que representantes da chamada geração da informação. Os estudantes de hoje são apaixonados por informação, desde que sejam, obviamente, atrativas a eles. E, nesse caso, o que seria atraente? Eles trocam informação o tempo todo: em casa estão online nas mais diversas redes sociais e, na rua, continuam online nos celulares, com cada vez mais acesso à conteúdo.
Outro ponto que não pode deixar de ser considerado é que eles não são mais passivos com relação às informações que recebem, ou seja, querem usar esses dados para transformar em conteúdo próprio, com as suas marcas. Podem até ler os clássicos de Machado de Assis, mas querem replicar em vídeo brincadeiras em cima do tema tratado.
Querem montar bandas de rock replicando os clássicos, usar os mais diversos programas de edição para manipular o conteúdo.
Querem sentir-se participantes.
É exatamente nesse desejo, o de participar, que está a grande oportunidade dos professores, de conquistar apresso pelos grandes mestres da literatura.
Não podemos esquecer, também, que essa está pela rapidez e fragmentação. Os 140 caracteres do Twitter, a publicação imediata dos registros em vídeos das experiências vividas no dia a dia no YouTube, ou seja, do repasse instantâneo do que aprendem, multiplicando através da internet. E essa forma de contar suas histórias vem sempre em partes, algo parecido com o que acontecia na Idade Média, quando os clássicos eram lançados em capítulos. De acordo com a repercussão que o capítulo do dia anterior recebeu do público, o do dia seguinte era escrito.
Uma estratégia na hora de conquistar a paixão dos estudantes pela leitura é fazer com que seja em partes, paralelo às atividades extras.
Precisamos ter em mente que essa não é uma geração passiva com relação ao conteúdo, quer fazer, transformar, realizar, mas de uma forma muito peculiar. É possível incentivar a leitura, inclusive a dos clássicos da literatura brasileira, mas, para isso, devemos entender as peculiaridades das mentes dessa geração.
Esta não é uma geração passiva com relação ao conteúdo, quer fazer, transformar...
Marco Paulini PROFESSOR DE LITERATURA
Fonte: Artigo publicado em 31/05/2010
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